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Spectral Evolution

Spectral Evolution | Rafael Toral

Conhecer o percurso de Rafael Toral é mergulhar em 35 anos de música, composição e interpretação no rock, free jazz, eletrónica e ambiente. É silêncio e contemplação, ruído e desconforto. É conhecer em profundidade os caminhos e percursos a que o som nos pode conduzir.

Cruzei-me com o trabalho de Rafael na fase que o mesmo intitula como Terceira fase (a partir de 2017). O disco Jupiter and Beyond (com João Pais Filipe) é um dos discos que mais gosto desta fase de Toral. Como diz no seu site, nesta fase do seu percurso, este disco é mais cru e emocional. E para mim tornou-se percetível que são estes discos mais emocionais que me levam a explorar a carreira de Rafael. Mais tarde escrevi sobre dois lançamentos digitais da Noise Precision Library: Live in Lisbon (with Hilmar Jensson) e Live in Lisbon (with Tatsuya Nakatani and John Edwards). E, em 2023, escrevi sobre o seu Space Quartet e o disco Last Set.

Chegados a 2024, encontramos em Spectral Evolution o destino desta viagem de 35 anos. Um regresso à guitarra elétrica, um disco que deixa em aberto caminhos para diversas viagens. Rafael apresenta-nos a discografia, que nos permite ouvir o seu trabalho e compreender o seu caminho, o seu racional de criação, a forma como Spectral Evolution sintetiza o seu percurso. Este último disco é avassalador.

É profundo, cruza o térreo com o espiritual e pela primeira vez não me levou para outros mundos (atenção que gosto muito de viajar nos outros mundos de Toral). Levou-me numa viagem interior, uma viagem minha (e na verdade dele). Deve existir uma explicação racional para a apurada sensibilidade de Rafael Toral.  De sentidos aguçados ouvimos o nosso eu interior. Revivemos tristezas, refletimos sobre escolhas, ações e decisões. Ouvimos ao longe – fruto da nossa mente – canções que nos embalaram na infância e medos de quem escondido esperava pela noite debaixo da cama. Entramos na igreja pela mão da nossa avó e viramos as costas ao altar num ato ponderado de negação. Este disco é uma lição de psicanálise, de profunda comunhão com o nosso lugar no mundo – pelo menos, foi assim para mim.

É um disco belo e puro. Entrei no comboio sem saber que a viagem, de quarenta e sete minutos, seria tão intensa, com paisagens tão verdejantes, mas também tão negras. É uma viagem sem retorno. Depois de entrarmos tão profundamente no trabalho de Rafael, não mais voltaremos ao ponto inicial. Reconhecemos neste disco o seu percurso de 35 anos. A interligação entre a guitarra e as eletrónicas de sons espaciais, levam-me ao momento em que, há uns anos, procurei conhecer mais aprofundadamente o seu trabalho. Na verdade, aquilo que poderia ser considerado improvável, torna-se harmoniosamente perfeito neste disco. A viagem pelo seu lado mais espacial, composto pelos instrumentos eletrónicos que foi construindo, e os instrumentos clássicos que fazem parte do nosso conhecimento geral.

O que Toral nos propõe – ou o que eu entendo que nos propõe – é que, num momento em que o mundo está tão caótico e perdido, encontremos o nosso lugar. A energia canalizada em sons que o próprio foi descobrindo e trabalhando ao longo de décadas. Mais que um músico, compositor ou produtor, Rafael é um investigador do silêncio, do som e das suas potencialidades.

Já disse que este disco é belo. Acho que ainda não disse que é duro.

A morte faz parte da viagem. A morte de uma parte de nós também acontece nesta obra para depois ascendermos até outra dimensão.

Demorei muito tempo a escrever sobre este disco porque o que me trouxe mexeu profundamente comigo. Inicialmente, mais que uma resenha sobre o disco, nasceu uma introspeção sobre a minha viagem com este disco. Foi preciso voltar a sentar-me, encontrar o caminho certo e reescrever. Nunca tinha escrito algo tão pessoal que se perdesse por completo o foco no que era pretendido: o disco. E até nisso a experiência foi nova e enriquecedora. Nova escuta, nova viagem, reescrever sem perder nadinha da experiência que são estes quarenta e sete minutos.

O percurso musical de Rafael Toral é vasto, rico e consistente. Sinto-me sempre pequenina quando escrevo sobre ele.

Entrei em partes de mim que desconhecia, desci até ao mais profundo, voltando a elevar-me entre a sua guitarra e os seus sons etéreos. Esta viagem é irrepetível e, sem dúvida, que é um disco que percorre de forma exímia os 35 anos de criação de Toral.

Pode ler a entrevista a Rafael Toral neste link.

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Entrevista a Rafael Toral

Entrevista a Rafael Toral

É um desafio entrevistar Rafael Toral. Conhecer o seu percurso aprofundadamente envolve muitas horas de escuta atenta, procurar conhecer os seus instrumentos e os músicos com que partilhou e partilha discos e palcos.

Toral é sinónimo de meticulosidade, investigação e criação. Esta entrevista é uma visão dos seus 35 anos de criação e investigação sobre o som e falaremos do seu novo disco Spectral Evolution que é um reflexo claro de todo o percurso de Toral.

***

Obrigada, Rafael, por teres aceitado esta entrevista.

Obrigado, eu, pelo teu trabalho e interesse.

Parabéns pelo novo disco! Fala-me um pouco do disco e de como reflete o teu percurso.

O disco surgiu-me primeiro com a imagem de um jardim como metáfora musical. Tal como a harmonia acolhe as notas “certas” na melodia, também num jardim só estão as plantas certas no sítio certo. Então, o que eu quis fazer foi uma música equivalente às ervas que crescem selvagens no solo, abundantes e desordenadas, usando os instrumentos electrónicos como fonte de melodias “caóticas” que nascem dum solo harmónico. Essa primeira ideia foi a mais difícil. Demorei muito tempo a fazer com que a electrónica deixasse de “pairar” sobre a harmonia separadamente, mas acabei por conseguir “ensinar” harmonia àqueles bichos para que as duas camadas se unissem. Outra das raízes do disco é o fascínio pela harmonia do jazz dos anos 1930, quase todas as partes são formas-padrão do jazz antigo, logo a começar com Changes, cujos acordes Gershwin escreveu em 1930. Outras partes são elementos tornados abstractos, como a cadência “ii-V-I”, e outras.
Como já me tinha observado a gravitar em direcção a uma música mais estática, “lembrei-me” que tenho todo um passado com essa abordagem e imaginei que podia orquestrar os acordes com o som de guitarra que descobri no Sound Mind Sound Body em 1987. Muito do meu trabalho com guitarra até 2003 está evocado no disco, e naturalmente que os “solistas” electrónicos vieram directamente do Space Program (tudo o que fiz entre 2004 e 2017). Lá está – o Space Program foi lançado em ruptura com a fase anterior, até tive de mudar a maneira de pensar a música, logo este disco trata de reconciliar mundos opostos.

Como te sentes com este regresso à guitarra e com a sua utilização conjunta com os instrumentos feitos por ti? Podes elaborar um pouco mais sobre a forma como pensaste na composição de Spectral Evolution?

Antes, sempre entendi a guitarra como um objecto que emite som, harmónicos, ressonâncias e feedback. Tinha aptidões básicas como guitarrista, suficientes para tocar rock, mas nunca tive o menor interesse em técnica de guitarra nem em mecanismos harmónicos. Na verdade, aborrecia-me o discurso solístico na guitarra porque era necessário interromper um som para dar outro, e tocando depressa não dava para apreciar nenhum. Este “regresso” à guitarra é muito mais que isso, na verdade estou a começar de novo. Interiorizei, a partir das músicas que amo, que os acordes também são um som em si mesmos. Especialmente no jazz, que usa acordes complexos, com “cores” particulares e que acabam por fazer sentido inseridos numa sequência própria, não existem em separado. Então rendi-me, porque quero usar essa matéria. Como dizia Miles a Bill Evans ouvindo-o tocar, “there – i want that sound”. Isso implica interessar-me por coisas que toda a vida detestei: escalas, modos, regras. Estou a adquirir o que passei toda a vida a rejeitar. Estou ainda a começar, a observar o espaço. Sei que se fecha facilmente e só se abre com muito esforço.

A composição do álbum tomou forma quando comecei a observar certas simetrias nas peças. Decidi ter peças mais estáticas a que chamei “espaços”, dois curtos e dois longos. Uma peça descendente e outra ascendente, etc. Assim acabei por tornar a composição simétrica, que progride pela ordem inversa a partir do centro e acaba com uma “reprise”, de volta ao tema de abertura.

Consideras que a tua experiência com o rock alternativo é audível neste disco?

Acho que sim, essas experiências formativas de juventude acabam por ficar sempre no sangue, no ADN.

Como? 

Revela-se em pormenores, ou na postura perante certas coisas, ou por vezes em referência directa, por exemplo como no som de Ascending, em que uso uma quinta, intervalo típico do rock com um som distorcido também de rock clássico. Mais subtil é o uso de alguns voicings na orquestração. No jazz é habitual omitir-se a quinta de um acorde, por ser um som que só dá mais corpo e não acrescenta nada de característico ao acorde. Mas no rock a quinta é essencial, é com ela que se faz um “power chord”. Por isso muitas vezes escolhi maneiras de orquestrar os acordes com a quinta por cima do baixo, que dá uma vibração deliciosa, sensorial e mais próxima do rock. Não é uma escolha deliberada, soa-me melhor assim, está no sangue…

É um disco muito forte emocionalmente. Como pensaste e criaste as paisagens sonoras?

Bem, na verdade pensei em relações, equilíbrios e contrastes. Na maior parte dos casos procurei responder às exigências da própria matéria, às direcções que a música ia ditando. Tenho pouco jeito para criar coisas já projectadas de raiz. Sempre que realmente tento desenhar uma paisagem, a matéria mostra desconforto e vai fazendo exigências. Resistir é inútil, a música tem sempre razão. É preciso ouvi-la, ela fala comigo, sempre a queixar-se…, mas quando por fim diz “Ah, isto sim!”, isso vale tudo.

Ainda era adolescente quando li Ponto, Linha, Plano, de Kandinsky, e nele havia uma observação que ficou sempre comigo: Que uma linha recta é um ponto em movimento, impelido por uma só força, e que uma linha curva também, mas impelido por duas forças em conflito, e por isso é intrinsecamente dramática. Reparei cedo que isso também é verdade no som. Nota-se muito, por exemplo, nos bendings do Blues. Um instrumento como o mini-amplificador “MS-2” em feedback (com o qual é difícil desenhar uma linha recta) não parece soar muito dramático no seu elemento natural (free-form, como o Space Quartet), mas colocado em relação assumida com acordes e estruturas harmónicas, fácilmente ganha uma expressividade emocional muito forte, tanto parecendo um lamento como um grito. Depois tens todo o ambiente da harmonia clássica, alguns acordes têm uma expressividade pungente. Para começar, basta olhar para uma cadência basilar no jazz e muito usada no disco, a “ii-V-I”. Os números romanos referem-se aos graus de uma escala maior, em que o “ii” é um acorde menor, normalmente associado a um sentimento de melancolia ou tristeza, o “V” é um acorde dominante, cheio de tensão, e inclinado para chegar ao “I” que é um acorde maior, de plenitude e repouso. A história da música está cheia destes movimentos, e no disco as emoções nos acordes sentem-se mais intensamente porque o ritmo é muuuito lento.

A tua saída da cidade para uma vida no campo está refletida nestas paisagens? Como?

Faz-me pensar… a música toda que fiz sempre foi muito pouco permeável a informação exterior ao universo da música. Sempre foi, e quis que fosse, sobre coisa nenhuma, sem descrever nem imitar nada e sem outro assunto que não ela própria. Curiosamente isso é uma constante desde o início. Tudo o que o disco contém já existia antes de eu ter saído de Lisboa, e as “paisagens” pouco têm de paisagístico no pensamento, para mim está tudo saturado de preocupações formais. É aquele efeito de que falava James Turrell, que lhe interessava o movimento do cisne que desliza sobre a água , mas sem se ver as patas a pedalar por baixo… É verdade que algumas partes mais densas são inspiradas na ideia de floresta tropical, nessa massa sonora que não se rege por uma lógica orquestral, antes por uma lógica intrínseca à Natureza, mas isso não tem nada a ver com o local onde vivo, aliás, essa ideia ocorreu-me pela primeira vez ainda em Lisboa… Ainda assim, é um bom momento para nos lembrarmos que somos todos Natureza, não somos separados dela nem uma coisa diferente. Acho que estar interessado nisso é, no mínimo, saudável e, no máximo, necessário. É verdade que viver na cidade não facilita isso.

O silêncio – e a investigação sobre esse espaço – é claro na tua discografia na fase que designas como Space Program. Como vês esse silêncio e esse espaço no novo disco?

O Spectral Evolution já pertence a outro paradigma de pensamento. O silêncio e o espaço equivalem-se no Space Program e são o chão da grelha do tempo em que se tomam decisões – especialmente rítmicas, sobre quando fazer som. Neste disco há segmentos de fraseado em que esses princípios são seguidos (por exemplo, logo na Intro), mas na maioria dos casos a lógica discursiva na electrónica tornou-se mais da Natureza, e por via da multiplicidade, muitas vozes em simultâneo (isso tende para paisagem, logo para repouso, logo para silêncio, mas duma maneira e com um ponto de chegada radicalmente diferentes). O Space Program focou-se no discurso humano e no silêncio como o branco do papel que permite ler o que nele for escrito. É outro tipo de espaço. O Spectral Evolution não concebe o vazio, é cheio de terra e matéria viva.

Em 35 anos de carreira cruzaste-te e desenvolveste trabalho com vários músicos. A Moikai, de Jim O’Rourke, esteve sem editar durante aproximadamente 20 anos. Fala-nos um pouco do teu trabalho com Jim O’Rourke.

O Jim é um amigo querido de há muitos anos. Tocámos juntos poucas vezes. Tem um sentido crítico apuradíssimo e uma intuição certeira, além de um grau de conhecimento e mestria em quase tudo o que tem a ver com música. Estava eu em sérias dificuldades com o processo de fazer o disco “acender”, de o fazer ganhar identidade e vida própria, quando decidi enviar a versão que tinha na altura ao Jim, pedi-lhe para o ouvir e me apontar críticas, na esperança que me ajudasse a desbloquear e a perceber coisas que não funcionavam. Respondeu a dizer que gostava mesmo muito, e que pensava relançar a sua editora para o publicar. Que ele tivesse gostado eu percebi, afinal eu estava a tentar fazer uma obra-prima, mas quanto à editora, não consegui levá-lo a sério, achei demasiado inverosímil, pensei que havia um lado nele que eu não ia perceber. Mas como se vê, ele estava mesmo a falar a sério.

Gosto muito da Noise Precision Library. Podes aprofundar um pouco mais sobre estas edições digitais?

Obrigado. Comecei a publicar gravações que achava interessantes, que podia partilhar com quem me acompanhasse, mas que não me pareciam justificar o investimento num suporte físico ou em cobertura jornalística. Algumas coisas antigas das cassetes de 4 pistas, etc. E também tinha gravações de colaborações, na maioria ao vivo e algumas notáveis, que não queria que ficassem na gaveta. Acabou por funcionar como um registo público de muita coisa que fiz e nunca chegou a ser disco. Algumas edições acabei mesmo por fazer em CD também, mas muito poucas, como o Harmonic Series 3 ou o Under the Sun. Nesta fase tenho publicado pouca coisa porque ainda estou em transição…

Obrigada, Rafael.

Pode ler a resenha que fiz sobre o disco neste link.

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Quando uma frase vale mais que um bom design

São 7h43 e sento-me ao computador. Hora de responder a emails e tratar de burocracias. Trabalho com texto diariamente. Copywriting, UX writing, edição e revisão de texto. Estas profissões são mais mal pagas que outros profissionais ligados ao design e à criação de conteúdo. Ainda irei dedicar-me a este assunto mais aprofundadamente. Não será hoje.

A quantidade de publicidade no meu email é elevada, mas vejo-a de fio a pavio todos os dias. Estudar a forma como as marcas estão a comunicar, pontos chave em texto, má utilização de traduções em inteligência artificial, etc.

Hoje, às 7h34, chegou ao meu email a carta de despedimento de um copywriter e de um designer. Se não foi a carta de despedimento, foi um erro que, segundo a minha experiência no mercado de trabalho, poderá sair-lhes caro. Agora atentem neste assunto de email:

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Quem nunca, a uma segunda-feira, teve vontade de mandar tudo para o caralho, que atire a primeira pedra.

O assunto fez com que o meu clique fosse imediato e por isso a taxa de sucesso deste email aumentou automaticamente. A malta de SEO a rejubilar de alegria!

Abri o email e, para que não restem dúvidas, em tamanho considerável, mais um demónio exorcizado por este copywriter.

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Cliquei e fui até ao site. SEO rejubila novamente! Além de abrir o email, cliquei e fui até ao site. As estatísticas estão ao rubro! O copy completamente alinhado com SEO. Chegada ao site lá estava o pleno da campanha. Nesse momento pensei: já foste.
Acabo a ser vidente e os pensamentos passam por:
1. A pessoa em questão foi despedida e este foi um ato de raiva e frustração.
2. Este ficheiro surgiu de uma brincadeira e foi carregado online por engano.

Seja qual for a opção, este trabalho passou por uma equipa de pessoas: o designer, o copywriter da campanha, o editor do site, o copywriter que escreve os conteúdos dos emails e redes sociais (que pode ser o mesmo ou várias pessoas diferentes), o gestor da plataforma de CRM, o gestor de campanha, ect. A cadeia de pessoas envolvidas numa campanha é grande neste tipo de empresas.

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Seja qual for o resultado deste erro podemos sempre refletir sobre:
– a importância das empresas começarem a ter noção que o texto é, ainda hoje, parte essencial de uma campanha.
– que uma campanha pode ter o design certo, suscitar o clique por ser apelativa graficamente, mas com o texto errado dá aso à indignação, complicação, crítica, e perda de clientes.
– o texto gera empatia, descomplica a experiência quando está bem escrito e cria elos quando aliado a um bom design.
– a cadeia de pessoas que trabalha em equipa faz com que a experiência, a captação e retenção de clientes seja maior.
– que nem só de research de SEO vive uma campanha. Neste caso não é essa a questão, mas o SEO muitas vezes sobrepõe-se à mensagem e isso tem consequências menos boas para a experiência do utilizador.

Gosto de pensar que o que vi hoje foi um erro, que estas coisas podem acontecer e que a pessoa em questão falhou, não por raiva ou frustração, mas por distração. Preferia que não tivesse falhado, mas assim tirará daqui uma aprendizagem e em vez de vingança, terá uma lição de profissionalismo e atenção aos pormenores. O banner esteve online no site mais de uma hora e gerou bastante burburinho.

Que a marca também aprenda com este erro. Não conheço o modo de funcionamento da marca, mas conheço bem o site enquanto utilizadora e a experiência é má. Mistura-se copy em português e espanhol. Existem páginas de apoio ao cliente inteiramente em espanhol num site para o mercado português.

Mas não me compete a mim analisar a usabilidade, acessibilidade e a qualidade. Hoje aprendi mais umas lições.

Se a bluemonday vai para o caralho não sei, mas já valeu a pena para a malta de copywriting o impacto que este copy teve.

Nota: não identifico a marca. Os prints estão editados e onde constava a identificação da marca, retirei.

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Nós em nós | Rosane Nunes

Nós em nós | Rosane Nunes

Irei fugir ao pequeno texto introdutório sobre como a Rosane Nunes se cruzou comigo e entrou de rompante na minha vida (esse texto é mais longo que o habitual e por isso remeto-o para o fim desta resenha). 

Nós em nós chegou às minhas mãos este Verão e li-o de uma assentada. Entretanto entrou a silly season e deixei a escrita da resenha para o final do ano. Esta última resenha de 2023 não é aleatória. Este livro é uma descoberta constante de nós, do que nos liga, do outro, dos laços e das amarras. Desconhecia (infelizmente) a escrita da Rosane. O seu trabalho como editora sei (por experiência própria) que é muito bom, mas a sua escrita deu-me a conhecer a Rosane com outra profundidade.

Nós em nós é prosa e poesia. Mexe connosco: quer queiramos, quer não. O livro está dividido em 5 partes: Ossos; Nós em nós; Desconcertos; Fábulas e Recados. Cada parte tem vários pequenos textos, sendo que na parte Recados temos vários poemas. 

Na primeira parte, Ossos, o primeiro texto – Cães, foi o que espoletou aquela vontade incontrolável de continuar a ler o livro de seguida. 

Na segunda parte encontrei no texto Azeitona um nó importante para mim – o nó do amor infinito. Em Desconcertos, a Língua fez-me rir, e nas Fábulas o texto Paco é uma história sobre os nós familiares.  A cada texto um nó novo, uma ligação, um sentido. Quando chegamos a Recados encontramos uma nova Rosane. E é em Oi que a paginação faz as suas maravilhas com o poema. Não vou estragar a vossa leitura e por isso não coloco aqui o poema. 

As pequenas histórias estão muito bem escritas, levam-nos até aos lugares, às personagens, a querer fazer parte. Assumo que existem termos de português do brasil que tive de ir pesquisar. À maioria cheguei lá pelo contexto, mas uma ou outra palavra tive de ir até ao google. Adorei passar a conhecer a palavra “fuxicar” e remexer as palavras que o Brasil tem. 

Um livro intenso que aconselho que faça parte da vossa lista de leituras para 2024. A escrita da Rosane é deliciosa!

O tal pequeno texto introdutório…

A vida académica veio tarde. Fiz a licenciatura já adulta e só quando cheguei à idade de ter juízo é que fui para o mestrado. Levei o meu tempo, amadureci e tomei as decisões naquele que considero ter sido o momento certo para mim. A Rosane estava sentada numa sala de aula da FCSH, entrei e penso termos cruzado olhares (talvez esta parte tenha sido apenas fantasiada por mim). Sei, hoje, que as suas expectativas eram similares às minhas (a idade também nos traz destas coisas: expectativas elevadas, mas pés na terra).

Rapidamente trocámos impressões, rimos, criticámos e elogiámos textos, pessoas, entre outras coisas mais pessoais. 

Admirei de perto o seu profissionalismo, a sua vontade de mostrar o trabalho dos outros (com a sua editora Raíz, atual Cambucá), vi como executava os seus trabalhos e como falava apaixonadamente sobre edição e editoras. 

Nunca, até agora, tinha lido textos da Rosane, mas ela leu-me e deu-me muitas dicas e diretrizes. Foi a primeira editora que me convidou para escrever um conto e publicá-lo. Riu com os meus Devaneios Menstruados e incentivou-me a continuar a escrever. Passou-me a ideia de editar os Devaneios e comecei rapidamente a sonhar. É um dos efeitos que a Rosane tem nas pessoas. Apresentou-me o Juva Batella, mostrou-me pequenos pormenores do seu Brasil e da sua preocupação com os mais pequenos.

Ler este livro foi ver a Rosane de outra forma, dona de uma garra incrível e uma escrita forte e intensa. 

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Parabéns, Alberto Pimenta!

Parabéns, Alberto Pimenta!

Dizem os crentes que a 25 de dezembro nascia Jesus. Creio noutras coisas: na arte, na escrita, na reflexão, no humor, na poesia. Sem precisar de ser crente sei que a 26 de dezembro de 2023 celebramos 86 anos de Alberto Pimenta.

Celebro o nascimento de Alberto Pimenta com um copo de gin, enquanto me presenteio (leram bem: a mim, não ao Alberto) com o seu texto Perspectiva sobre a morte do seu livro Que lareiras na floresta (2010).

“A morte é uma coisa que pertence à vida, embora muitos pensem que não. A morte digna é uma felicidade a que o homem tem direito. É, ainda, a busca da última felicidade possível para uma vida. A morte digna já não pode ser exatamente como no tempo dos romanos, na banheira, a cortar lentamente as veias, com rosas a boiar na água, rodeado dos amigos e das amigas…, mas o que vejo hoje é que a maioria das mortes são indignas: as pessoas são depositadas em lares da terceira idade – que são eufemismos para matadouros: tal como as vacas e os bois, as pessoas, quando já não servem para o trabalho, vão para o matadouro. Porque esta é uma sociedade de trabalho, de produção!”

A si, Alberto Pimenta, desejo que esteja por cá mais tempo e que continuemos a lê-lo, a rir e a aprender consigo. Ainda não chegou a altura de ir para o matadouro.

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Foto retirada do site https://www.edicoesdosaguao.pt/
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Era uma voz em Casa Branca

Entrevistas que viram histórias | Era uma voz em Casa Branca

Primeiro conto do projeto Entrevistas que viram histórias

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Terra Cobre de João Pais Filipe e Marco da Silva Ferreira

Terra Cobre de João Pais Filipe e Marco da Silva Ferreira

A primeira vez que vi o João Pais Filipe ao vivo foi na sala Novo Negócio, em duo com o Pedro Melo Alves, a 15 de junho de 2021.

Esse concerto está, até hoje (e acredito que assim irá continuar), na minha lista de melhores concertos que vi. Comentei na altura com quem estava comigo que não sabia o que escrever além de: “impactante, memorável e que me fazia ficar ali sentada, horas a fio, a ver e ouvir os dois, naquele diálogo perfeito, harmonioso e disruptivo sempre que foi preciso”.

Mais tarde, em julho desse ano, entrevistei o João Pais Filipe para o Covidarte e prometi que ainda iria escrever sobre esse concerto. Não o fiz, passou o timing, mas o que senti nesse concerto ainda está muito presente em mim.

No passado dia 30 de setembro repeti a experiência. Desta vez fui até à Estufa Fria assistir à performance Terra Cobre, do músico e escultor João Pais Filipe e do coreógrafo e bailarino Marco da Silva Ferreira, no âmbito da programação da BoCA – Biennial of Contemporary Arts.

Era para começar às 19h00, começou 37 minutos depois (questão devidamente explicada ao público, o que mostra respeito por quem ali estava). Ninguém desistiu. A amabilidade de quem estava a gerir o momento ajudou, o espaço da Estufa Fria convida-nos a usufruir do ambiente e quem lá estava sabia que esperar para ver a performance iria valer a pena.

Terra Cobre começa com um braço que se move, um chocalho que é a extensão do corpo do Marco da Silva Ferreira (que daqui para a frente será apenas Marco). O corpo é usado como meio percutivo. Temos a força no bailarino e a subtileza no músico. Estou sentada a absorver mundo, tradições, mudanças, adaptações. E começou há menos de 2 ou 3 minutos.

As percussões do João Pais Filipe (doravante João) são perfeitas, sem margem para erros. Técnica, criatividade, foco, sensibilidade são palavras que definem o trabalho do João.

Olho para o Marco, o ritmo, o corpo ao serviço da vontade. A possessão e o exorcismo, a antítese entre o térreo e o ancestral. Um transe que passe para o nosso corpo.

De forma inesperada ecoa um canto vindo do Marco: “Ao romper da bela aurora (…)”. Cenicamente a voz e os corpos ganham outra presença, não há percussões durante o canto.

O gongo entra para que deixemos o térreo do canto e nos deixemos guiar até ao lado mais transcendente. Repetitivo, hipnótico, pulsante. O Marco regressa e faz-me viajar até aos Caretos. Volto ao tradicional, deixo que a história se baralhe, me troque perceções e que os chocalhos acabem pendurados e silenciados no momento final.

Ver Terra Cobre é fazer parte da experiência que se desenvolve entre a aldeia e o mundo, entre o corpo e os sons. Mais uma vez o João Pais Filipe não desilude e o Marco da Silva Ferreira ficou dentro do meu radar de artista a acompanhar.

Aproveitem e espreitem a agenda da Boca 2023 com programação a decorrer até 15 de outubro de 2023.

  • Terra Cobre de João Pais Filipe e Marco da Silva Ferreira
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Kramp | María José Ferrada

Kramp | María José Ferrada

Este livro está, neste momento, no primeiro lugar do meu top de 2023! 

Li-o numa manhã, da semana passada. Acordei eram 5h30, indisposta e entre o sono que não regressava e o silêncio da minha casa, decidi abrir o Kramp. Encomendei-o em julho, mas ouvi falar dele pela primeira vez a 3 de junho, na Feira do Livro de Lisboa, na apresentação da chancela Questão Pentagonal. Corri muito nesse dia, cheguei atrasada, mas sabia que ia valer a pena. A Antena 2 esteve por lá e podem ouvir a apresentação da Questão Pentagonal no site da RTP.

Esta chancela, do Grupo Narrativa, foi criada pelo Afonso Cruz e traz até nós traduções de obras desconhecidas, até agora, em Portugal. 

Quem me conhece sabe que gosto muito da escrita do Afonso e não é de estranhar a minha curiosidade sobre o que ele nos daria a conhecer com a Questão Pentagonal.

Kramp, de María José Ferrada e tradução de Afonso Cruz, é um livro que não nos deixa fazer uma pausa. Assim que iniciamos a leitura não há volta a dar: é para ler de seguida nem que para isso se tenham de esconder algures em vossa casa para que ninguém vos incomode. 

D, pai de M, é um caixeiro-viajante que acredita que “toda a vida tem a sua alunagem”. Vende pregos, serrotes, martelos e olhos mágicos da marca Kramp e tem como companheira de trabalho a filha, M. Partilham visões, lições e cigarros. No capítulo IV, M mostra-nos a sua classificação das coisas e acreditem que não vão conseguir parar de ler.

A lucidez de M sobre a vida é incrível e a forma como esta lucidez é conseguida na escrita de María José Ferrada é maravilhosa. M tem mãe e tem D (que será pai nas últimas páginas do livro). Não quero estragar a leitura, mas estes pormenores na escrita do livro tornam-no delicioso e terei de o reler porque a isso me sinto compelida pelo Grande Carpinteiro (criador do Mundo ao olhos de M). A forma como M explica o mundo e o seu funcionamento a partir dos produtos Kramp é genial.

Todas as personagens entram subtilmente, com descrições tão bem conseguidas que nos fazem querer descobrir mais sobre S, F, E, C e todos os outros.

As lições de vida que um único parafuso nos traz, pequenos detalhes que vamos lendo e que se revelam gigantes quando menos esperamos, e esta vontade louca que tenho em contar-vos cada frase incrível que li, que me agarrou, que me ensinou a olhar o outro de várias perspetivas nesta história. Este livro põe-nos no papel de mãe, de pai, de amiga, de criança e de adulto. Dá-nos tanto e tão rápido.

Com a escrita de María José Ferrada espreitei silenciosamente pelo olho mágico da minha porta e vivi a história de M como se fosse minha.

Com este livro a autora recebeu o Prémio do Círculo de Críticos de Arte, o Prémio Melhores Obras Literárias do Ministério das Culturas, das Artes e do Património e o Prémio Municipal de Literatura de Santiago.

Que bela escolha, Afonso, para começares a Questão Pentagonal. O próximo na lista para encomendar e ler é Não deixes que uma boa notícia te estrague o dia (aforismos), de Ramón Eder. Tenho a certeza que não me irá desiludir.

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パ​ン​ダ​の​飼​育​日​誌 de 故やす子 feat. 仮名


パ​ン​ダ​の​飼​育​日​誌
de 故やす子 feat. 仮名

Ouvir e/ou comprar no Bandcamp

Yasuko Ko (故やす子) consegue neste “Diário de Criação de Pandas” (パンダの飼育日誌) puxar-nos para a frente e para trás num ato de criação que chega a transcender-nos. Do Japão só bons ventos e excelentes criadores.

As faixas — em que os títulos são datas (25 de março, 16 de julho, 22 de outubro e 20 de março) — contam-nos uma pequena odisseia entre o tempo que teima em atrasar-se e a pressa de chegar ao sítio certo.

As eletrónicas, os samplers e as vozes combinam-se ao longo de 4 faixas que te vão fazer mexer o corpo.

É nesta viagem que encontramos Yasuko Ko, que se intitula Mathcore Vocaloid Producer e que se apresenta neste disco da MiMi sucinta e intensamente.

(Liner Notes publicadas com o disco a 08 de agosto de 2023)

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Ana Bárbara Pedrosa | Palavra do Senhor e Amor Estragado

Ana Bárbara Pedrosa | Palavra do Senhor e Amor Estragado

Dois livros da Ana Bárbara Pedrosa, editados pela Bertrand Editora e que aconselho vivamente.

Review Palavra do Senhor

Esta review está para ser escrita há 2 anos. Vergonhoso da minha parte. Li o livro, adorei, entrevistei a Ana Bárbara para o Covidarte e nunca escrevi o que queria ter escrito na altura. Foi com este livro que conheci a escrita da Ana Bárbara, que me agarrou do início ao fim do livro. 

Espero aguçar-vos a curiosidade e aconselho a quem nunca leu nada da autora que comece por este.

Deus Nosso Senhor decidiu ir até ao psicanalista. Finalmente! O psicanalista somos nós 一 os leitores. Interessante como me senti parte ativa deste livro.

Deus é sádico, retira prazer do sofrimento alheio, comanda o mundo por trilhos de caos e paz. Brinca e diverte-se com as nossas vidinhas. É assim que se entretém connosco desde que criou este mundo que experienciamos 365 dias por ano (366 em anos bissextos). Eu disse “desde que criou este mundo”? É o efeito deste livro… Vivemos intensamente a história e depois escrevemos estas barbaridades.

Na verdade, segundo o próprio narrador deste livro “Levam à letra coisas de que já me arrependi, que não me dizem nada, que improvisei na altura. Também eu cresci, tornei-me num Deus melhor, como um rapaz que se faz homem. Hoje o que quero para o mundo é outra coisa. Não me interessam as trevas nem as vinganças e as guerras causam-me asco”. Estamos na página 13 e a autora já colocou Deus a mentir (é só a minha modesta opinião). 

Foi também com este livro que percebi que falho ao cuidar de mim e o grande motivo de Adão ter aterrado num jardim (percebi assim as duas coisas, duma vez):: “E já se sabe como é: para saber se sabemos cuidar de nós, primeiro cuidamos de uma planta. Por isso pus um homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”. 

Este livro ofereceu-me uma certa terapia, muitas gargalhadas e uma leitura a uma velocidade incrível. Não há palavras a mais, nem a menos. Tudo está na medida certa. 

Passagens como o Adão que já não pode ouvir a Eva ou esta sobre Caim “Talvez a culpa tenha sido minha por não lhes apontar o caminho. Afinal, fui eu quem provocou Caim e deixou que a sua espécie se reproduzisse em cima de um homicídio”, mostram que Deus precisa mesmo de acompanhamento psiquiátrico. 

Claro que o amor que nutria por Maria também é assunto. “Quanto a Maria, não foi sol de pouca dura. Quem ama odeia, e por isso odiei-a muitas vezes, durante anos e até durante séculos. Não foi fácil, mas pelo menos pus o mundo a dizer que o filho é nosso e, se ninguém a imagina na cama com José, muito menos sabem do affair com Gabriel”.

Sou fã deste Deus! Também eu nutro amor ódio por ele. A forma como conta a sua vida neste divã é incrível.  Eu enquanto o ouço falar nesta história reforço opiniões que já tinha sobre a teoria de ter sido ele a criar o Mundo.

O conhecimento que a Ana Bárbara tem da Bíblia é impressionante. Eu não o tenho, nunca a li, mas ao ler este livro assumo que quero ler a bíblia. Acho que deve ser um desafio interessante.

A Ana Bárbara Pedrosa ainda vai dar muito que falar enquanto escritora. Este é o seu segundo romance (ainda não li o primeiro, Lisboa, Chão Sagrado, que já está na minha lista para encomendar). Foi o livro certo para a conhecer enquanto escritora: tem um humor requintado, uma escrita fluida e cativante e um ritmo incrível.

Review Amor Estragado

“Matei a minha mulher. Não fiz de propósito, mas é daquelas coisas que, depois de feitas, já não deixam volta a dar.” 一 assim começa o novo livro da Ana Bárbara Pedrosa. Final anunciado e muito para ser contado. Preparem-se para coisas duras de ler, fazer uma visita à triste realidade da violência doméstica e dar um pulinho até ao mundo da estupidez humana. Tudo em 200 páginas de escrita real, sem rodeios e com a voz distinta da Ana Bárbara. 

Temas como: a deterioração das relações familiares; o desafio entre fazer o que é certo ou proteger aqueles que partilham connosco laços de sangue e a imagem estereotipada que a maioria de nós tem dos agressores.

É um livro escrito num tom bruto, com momentos muito agressivos, e que nos conquista pela crueza da escrita e dureza da mensagem que passa. 

O primeiro romance que li da autora é completamente diferente e não sinto que possa estabelecer comparações. Talvez frisar que a Ana Bárbara tem a facilidade de nos fazer mergulhar em temas distintos e navegar entre o humor e a brutalidade como peixe na água.

Entre o Manel (agressor) e o Zé (o seu irmão mais velho) vamos ouvindo perspetivas diferentes da história de vida partilhada e dos supostos motivos que levaram ao homicídio da Ema. São traçadas as personalidades e as visões que têm um dos outros.

“O Manel achou durante demasiado tempo que lhe bastava ser irmão, que não tinha de provar nada, que nem precisava de acertar. Que nós eramos a rede do trapézio para a maldade. (…) Mesmo depois de a matar, nunca lhe passou pela cabeça que nós nos pudéssemos ter perguntado o que é que ela veria nele”. É a visão do Zé que mais me agarra à leitura e é este personagem que assume, para mim, um papel fundamental na narrativa. 

Uma experiência de leitura muito diferente do seu anterior romance, que nos faz refletir sobre uma série de questões sociais, económicas e culturais.