Nós em nós | Rosane Nunes
Irei fugir ao pequeno texto introdutório sobre como a Rosane Nunes se cruzou comigo e entrou de rompante na minha vida (esse texto é mais longo que o habitual e por isso remeto-o para o fim desta resenha).
Nós em nós chegou às minhas mãos este Verão e li-o de uma assentada. Entretanto entrou a silly season e deixei a escrita da resenha para o final do ano. Esta última resenha de 2023 não é aleatória. Este livro é uma descoberta constante de nós, do que nos liga, do outro, dos laços e das amarras. Desconhecia (infelizmente) a escrita da Rosane. O seu trabalho como editora sei (por experiência própria) que é muito bom, mas a sua escrita deu-me a conhecer a Rosane com outra profundidade.
Nós em nós é prosa e poesia. Mexe connosco: quer queiramos, quer não. O livro está dividido em 5 partes: Ossos; Nós em nós; Desconcertos; Fábulas e Recados. Cada parte tem vários pequenos textos, sendo que na parte Recados temos vários poemas.
Na primeira parte, Ossos, o primeiro texto – Cães, foi o que espoletou aquela vontade incontrolável de continuar a ler o livro de seguida.
Na segunda parte encontrei no texto Azeitona um nó importante para mim – o nó do amor infinito. Em Desconcertos, a Língua fez-me rir, e nas Fábulas o texto Paco é uma história sobre os nós familiares. A cada texto um nó novo, uma ligação, um sentido. Quando chegamos a Recados encontramos uma nova Rosane. E é em Oi que a paginação faz as suas maravilhas com o poema. Não vou estragar a vossa leitura e por isso não coloco aqui o poema.
As pequenas histórias estão muito bem escritas, levam-nos até aos lugares, às personagens, a querer fazer parte. Assumo que existem termos de português do brasil que tive de ir pesquisar. À maioria cheguei lá pelo contexto, mas uma ou outra palavra tive de ir até ao google. Adorei passar a conhecer a palavra “fuxicar” e remexer as palavras que o Brasil tem.
Um livro intenso que aconselho que faça parte da vossa lista de leituras para 2024. A escrita da Rosane é deliciosa!
O tal pequeno texto introdutório…
A vida académica veio tarde. Fiz a licenciatura já adulta e só quando cheguei à idade de ter juízo é que fui para o mestrado. Levei o meu tempo, amadureci e tomei as decisões naquele que considero ter sido o momento certo para mim. A Rosane estava sentada numa sala de aula da FCSH, entrei e penso termos cruzado olhares (talvez esta parte tenha sido apenas fantasiada por mim). Sei, hoje, que as suas expectativas eram similares às minhas (a idade também nos traz destas coisas: expectativas elevadas, mas pés na terra).
Rapidamente trocámos impressões, rimos, criticámos e elogiámos textos, pessoas, entre outras coisas mais pessoais.
Admirei de perto o seu profissionalismo, a sua vontade de mostrar o trabalho dos outros (com a sua editora Raíz, atual Cambucá), vi como executava os seus trabalhos e como falava apaixonadamente sobre edição e editoras.
Nunca, até agora, tinha lido textos da Rosane, mas ela leu-me e deu-me muitas dicas e diretrizes. Foi a primeira editora que me convidou para escrever um conto e publicá-lo. Riu com os meus Devaneios Menstruados e incentivou-me a continuar a escrever. Passou-me a ideia de editar os Devaneios e comecei rapidamente a sonhar. É um dos efeitos que a Rosane tem nas pessoas. Apresentou-me o Juva Batella, mostrou-me pequenos pormenores do seu Brasil e da sua preocupação com os mais pequenos.
Ler este livro foi ver a Rosane de outra forma, dona de uma garra incrível e uma escrita forte e intensa.
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