Rafael Toral | Live in Lisbon
Podem ouvir aqui.
Editora | Noise Precision Library
O Rafael Toral dispensa apresentações, mas o Rafael Toral com Tatsuya Nakatani e John Edwards é um disco que merece não uma apresentação mas um destaque na biblioteca sonora de qualquer um de nós.
O disco “Live in Lisbon” foi gravado em 2009. É o resultado de três concertos juntos (um em Lisboa e dois em Cascais). E que resultado! Envolvente, penetrante e que me leva para outros sítios apesar de sentada comodamente no meu sofá.
Longo e cheio de requintes sonoros. Sem vontade de apressar a audição. É preciso tempo.
Para quem se queixa tanto como eu da falta de tempo este é um disco que nos faz viver o tempo de outra forma. Sem correrias, sem ouvir por ouvir, sem ter pressa para ir a algum lado. É para mim um disco sem tempo definido.
Mas se precisam de saber o tempo que devem ter para ouvi-lo, aqui vai. São duas horas. Mas se querem mesmo, mesmo ouvi-lo bem são duas horas de cada vez que o ouvem, vezes um número considerável de audições. Aconselho-vos a ouvirem-no muitas vezes. Porquê? Porque merece! Porque é tão bom que merece que paremos o frenesim e nos deixemos levar entre notas e ambientes. Entre tensões e desequilíbrios.
Tatsuya Nakatani é surpreendente e intenso. É breve e longo. É som e silêncio. E claro que o contrabaixo de John Edwards é perfeito neste trio.
As eletrónicas do Rafael Toral enchem-nos o espaço e transportam-nos, por vezes, para planetas distintos numa onda de foro alienígena.
É difícil descrever por onde anda a cabeça durante a primeira faixa. Do Japão a Marte, dos anéis de Saturno à estação de comboios de Sete Rios em Lisboa. Da paz dos jacarandás em flor ao corropio e lufa lufa quotidiana na vida de qualquer citadino. É por essas realidades e imaginários que me desloco ora em passo acelerado ora em passo lento e demorado.
Quase vinte e dois minutos depois da viagem ter começado há uma tosse que me traz para a realidade do concerto ao vivo. Voltei de Saturno e aterrei na Culturgest. E que bem que aterrei mas rapidamente voltei a uma manada a percorrer apressadamente uma savana.
Em cinquenta e um minutos e cinquenta e seis segundos fui a tanto sítio, senti tanta coisa e vivi momentos de extremo prazer.
Eu na minha sala, de fones e de sorriso no rosto.
O diálogo entre os três é intenso e assertivo, ora espontâneo, ora concertado. Devagar vamos sentido a dinâmica a crescer e o auge avizinha-se forte e marcante.
Live in Cascais I é um novo diálogo. Mais tenso e mais escuro. Que nos faz ficar zonzos e a suster a respiração em alguns instantes.
Aos vinte e sete minutos instala-se uma pressa, o batimento cardíaco acelera e ficamos agitados, ansiosos por chegar a algum lugar que nos traga um breve momento para respirar.
Imaginem uma viagem de comboio entre Lisboa e Cascais I. Acabaram de sair de Lisboa onde o tempo não era importante, onde reinava uma paz – que podemos dizer campestre e deveras imaginária na cidade – e que na viagem entre os dois pontos se instala a tensão e a ansiedade de chegar. Em que o tempo corre e o diálogo se vai intensificando.
É isso que sinto entre a primeira e a segunda faixa do disco. Tudo se intensifica. Tudo se torna mais interessante.
E quando dei por mim os aplausos anunciam que estamos prestes a entrar em Cascais II. A calma regressa, a tensão é aliviada e dá lugar a um momento em que três músicos excecionais respiram entre sons e frases num entendimento mútuo e fluido.
Cascais II é fechar em beleza um disco excelente. É sentir que queremos voltar a Lisboa e começar a viagem de novo.
Créditos
Tatsuya Nakatani – Drums and Percussion
John Edwards – Double Bass
Rafael Toral – Electronic Instruments
Thanks to: Pedro Costa
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