Space Quartet | Last Set
Podem ouvir e comprar o disco na página de bandcamp do Rafael Toral.
Numa review a um dos discos do Rafael Toral, escrevi que falhei sempre os seus concertos ao vivo. Este não podia falhar!
Assisti a este quarteto no Out.Fest, a 3 de junho de 2021, e escrevi sobre o concerto. Escrever sobre este disco é reviver o momento, com o distanciamento necessário para o ouvir com mais atenção, ir aos detalhes e reentrar no mundo do Rafael Toral. Ouvir o disco dá-me a liberdade de andar para a frente e para trás, de captar aquele momento em que o Nuno Morão fez um apontamento importante que ao vivo me tinha passado despercebido. Sim, acreditem que o Nuno Morão ao vivo tem destas coisas. Dialoga tão bem que só nos discos me apercebo de coisas absolutamente incríveis. Um dos bateristas que mais gosto de ouvir ao vivo na cena da improvisação.
Este quarteto tem uma energia muito própria e o Toral tem muito peso nesta questão. Entrar no seu mundo é permitirmos que a nossa cabeça embarque numa viagem complexa, com línguas diferentes e que nem sempre dominamos. É aprender sobre expansão e contenção, fluidez e resistência.
Começo a ouvir e mentiria se dissesse que não espero ansiosamente pela entrada das eletrónicas do Rafael Toral. A conversa entre o contrabaixo e o saxofone abrem o disco e começamos lentamente a deixar-nos conduzir. Continuo muito atenta ao contrabaixo do Hugo Antunes, mas hoje presto mais atenção a detalhes do saxofone do Nuno Torres. O Nuno Morão une momentos, interliga estações por onde passamos na viagem deste disco.
A viagem dura 1 hora e leva-me até sítios a que não fui no concerto ao vivo. Entre o térreo e o espacial, nunca nos sentamos descansados à espera do próximo transporte. Nos discos do Toral há sempre uma história de universos paralelos, dimensões diferentes, realidades que se cruzam e interligam.
Neste disco o fio condutor é claro, o diálogo entre os 4 músicos é fluido e não existe nenhum momento em que se percam e deixem de manter a conversa. Não há arrufos, quanto muito um diálogo mais aceso.
Uma pessoa muito próxima disse-me há alguns anos: “Não queiras chegar logo ao resultado final, aprende a aproveitar o processo”. Entre o concerto ao vivo e este disco passaram 2 anos. Agora ouço-o de forma diferente, com o distanciamento certo, e continua a entrar-me pelos ouvidos com a mesma delicadeza e beleza. É como se tivesse acabado de me sentar naquele auditório a 3 de junho de 2021.

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