Margarida Azevedo

The Selva | Canícula Rosa

Podem ouvir aqui.

Editora | Clean Feed

Que os The Selva têm de ser presença nos ouvidos de qualquer um de nós, não é novidade. Novidade é este ser, sem margem para dúvidas, o melhor disco do trio.

Dos primeiros aos últimos segundos não há um único momento que nos deixe desiludidos.

Não há como resistir ao violoncelo do Ricardo Jacinto que entra de fininho em Tiki Prussia num loop que nos abstrai de qualquer distração. A bateria do Nuno Morão que entra tão sorrateiramente que quando damos por ela já está embrenhada no violoncelo. E claro está que o contrabaixo do Gonçalo Almeida está lá ao fundo tão presente e tão natural que nos baralha os sentidos.

É um vício. De tal forma um vício que mesmo quando queremos deixar de consumir o ouvido não permite, por algum tempo, que larguemos Canícula Rosa em prol de outros sons.

São viciantes, subtis, perfeitos. Se há relação a três que nos desperta os sentidos, é esta! Mas com músicos assim não seria de esperar outra coisa.

Poderia alongar-me em tremendos elogios, mas neste caso ouvir e escrever ao mesmo tempo tolda-me o pensamento porque há discos que não precisam de palavras mas sim de ouvidos. Ouvidos predispostos a aceitar que há coisas que nos ultrapassam e trespassam.

Urdi Verdoso fez-me viajar. Há quem pense que é fácil construir histórias de forma automática ao som de uma música. Mas desenganem-se aqueles que pensam assim. Para que a escrita flua, para que o imaginário fuja a uma velocidade alucinante é mesmo preciso que o som que nos penetra a mente seja fluído, cheio de pormenores, recheado de pequenas surpresas e revigorante para que deixemos a mão escorregar no papel numa enxurrada de letras, frases, parágrafos, em que por vezes alcançamos páginas de pequenas histórias para onde o som nos levou.

Este é o disco que me apetece textualizar num guião para uma curta-metragem. Os ambientes mudam, as personagens também. Pode ser que se torne no meu próximo desafio.

Da criança irrequieta ao esquizofrénico do andar de cima, há espaço para todos. Todos cabem no universo deste disco. Quando dás por ti vais a meio do disco. Nem sabes muito bem como, nem porquê mas já lá estás. Como posso fazer-te sentir o disco que ainda não ouviste? Então aqui vai. Quando o teu vizinho esquizofrénico te foi acordar deste por ti a procurar um equilíbrio com laivos orientais. Curioso? Pois… É ir ouvir que vais perceber.

Manimal Cerúleo é o tema que elegi como uma das minhas faixas do ano em que por mais que a oiça me diz sempre algo de novo.

Este disco é, sem dúvida, a minha escolha para os próximos meses. É um disco seguro, daqueles que se me perder no que me apetece ouvir é só ir buscar e pôr a tocar que as dúvidas se dissipam.

Um disco seguro é igual a dizer que é um disco em cheio! Recomendo vivamente que o oiçam, que o apreciem. Que o oiçam em casa, no carro, enquanto fazem sexo, e nos momentos mais estranhos ou normais do vosso dia!

Ide ouvir!

Créditos

RICARDO JACINTO – CELLO
GONÇALO ALMEIDA – DOUBLEBASS
NUNO MORÃO – DRUMS

All music by THE SELVA Edited by CLEAN FEED (CF 518)

released March 6, 2019

Recorded by The Selva between 08-12 January 2018 at GNRATION, Braga Mixed by Nuno Fernandes at LAVA Studio Mastered by Nuno Morão at FISGAstudio/ScratchBuilt, Lisboa Photo by Adriano Ferreira Borges / gnration Artwork by Rita Thomaz Design by Travassos

Produced by The Selva and OSSO Collective Executive production by Pedro Costa for Trem Azul, 2019

Special thanks to Luis Fernandes, João Coutada, Adriano Ferreira Borges and Rita Thomaz.

www.osso.pt