Publicado em

Gonçalo Almeida

Gonçalo Almeida

“Os dois instrumentos permitem-me abordagens e formas de estar na música distintas, um pelo sentido sensorial mais delicado e acústico, o outro pela forma mais visceral e pesada. É o equilíbrio dos dois que acaba por fazer a minha forma de estar na música e têm como linha condutora o experimentalismo”.

Image Not Found
Foto de Nuno Martins

(Diz)Sonâncias (DS): Estás completamente dentro da cena jazzcore e de improvisação. Fala-nos um pouco do teu percurso e da ida para a Holanda.

Gonçalo Almeida (GA): Os meus primeiros passos na formação musical foram na escola do Hot Club e foi aí que me inciei no estudo do contrabaixo. Seguiram-se anos de estudo da linguagem jazz a par da música clássica, mas foi no departamento de jazz de Roterdão que acabei por ir estudar em 2002/03. Essa acabou por ser a razão que me levou a viver na Holanda, país e cidade onde ainda hoje sou residente.

(DS) Sente-se que o metal está imensamente presente no teu trabalho. Onde e quando surgiu esta influência?

(GA) Desde cedo tive gosto por música, embora o jazz tenha aparecido mais tarde quando decidi ir para o Hot, levava já dos tempos da escola secundária um enorme interesse em música alternativa do metal ao rock progressivo, etc. Foi essa a razão que me levou a pegar no baixo elétrico e ter enorme sastifação a tocar em bandas de garagem e estar constantemente a trocar discos com amigos. Essas raizes e gostos ficaram sempre comigo.

(DS) Achas que Portugal está bem “posicionado” no panorama do jazz europeu (salas, nº de concertos, divulgação e adesão aos concertos e eventos)? Que pontos consideras relevantes no que se faz por cá?

(GA) Eu creio que Portugal está com um ambiente cada vez mais variado, ativo e saudável no que diz respeito ao jazz e à música improvisada. Com público recetivo e com o aparecimento de espaços alternativos, para além das já conhecidas salas, clubes e festivais, a promoverem este tipo de música.

Exemplo disso é a variedade de festivais ao longo do ano por todo o país, com os municípios a apostarem neste tipo de eventos. Seria, contudo, bom que existissem para além dos festivais mais apoios e espaços descentralizados da capital, para que se pudesse criar um circuito mais vasto.

(DS) Falhei o gigs de Ikizukuri e Albatre na SMUP (Parede, Lisboa). Aquele sótão é um dos teus spots de eleição? Qual é a vibe dos concertos ali?

(GA) Nos últimos anos criei um carinho especial pela SMUP, pelo facto de ter lá tocado com variadíssimos projetos e o acolhimento e atenção do público terem sido sempre excecionais. Isso acabou por se ter revelado já em dois discos gravados naquele espaço (The Attic e Multiverse).

Para quem já lá tocou sabe o quanto aquele sótão é íntimo e convida a uma música de concentração máxima. Acho que é o resultado de uma fórmula que envolve espaço, quem o organiza, público e músicos.

(DS) É natural, no panorama em que desenvolves trabalho, os músicos unirem sinergias e criarem de forma livre e espontânea. Há alguns músicos, em particular, com quem sintas maior empatia no momento de criar? Como encaras e interpretas o processo de criação?

(GA) Um dos pontos interessantes na música de improvisação livre é exatamente o facto de muitas vezes ser uma forma de conhecermos o músico e a(s) pessoa(s) com quem tocamos. A espontaneidade faz parte desse diálogo e são sem dúvida essenciais a abertura e a confiança. Adoro reencontrar amigos desta forma e tocar nos mais diversos projetos pela mesma razão.

(DS) A tua procura por novas sonoridades, músicos e projetos determina o teu processo criativo? Quais as tuas motivações para alimentares o processo criativo?

(GA) Gosto de explorar constantemente diferentes constelações musicais, é uma necessidade pessoal e criativa. Interargir com diferentes músicos/instrumentos e procurar sinergias que levem a resultados variados dá-me imenso gozo. É também uma forma de estar constantemente ativo e explorar a música de várias formas, sempre com a experimentação como plano de fundo.

(DS) No panorama musical: Portugal Vs Holanda. Quem ganha?

Empatado até ao final, sem penaltis e com os dois vencedores. Não consigo ver as coisas dessa forma, ambos os ambientes musicais são ricos e têm uma cena própria. É verdade que na Holanda o jazz e a música improvisada têm uma história mais rica e instituida por mais anos, contudo creio que Portugal tem um sentido criativo em geral extremamente rico e especial, que resulta numa qualidade de músicos e projetos de jazz e música improvisada, do melhor que se faz pela Europa na atualidade.

(DS) Baixo Elétrico Vs Contabaixo. A tua eterna paixão recai sobre qual?

(GA) Isto é a pergunta do Ying Yang. Os dois instrumentos permitem-me abordagens e formas de estar na música distintas, um pelo sentido sensorial mais delicado e acústico, o outro pela forma mais visceral e pesada. É o equilíbrio dos dois que acaba por fazer a minha forma de estar na música e têm como linha condutora o experimentalismo. Contudo confesso que o contrabaixo é o instrumento que mais procuro explorar e com o qual sinto um afeto especial.

(DS) Também tens o teu site artalmeida. A pintura é um complemento à música? Consideras importante o cruzamento entre as diversas expressões artísticas? Como encaras esse cruzamento?

(GA) Os processos criativos são até semelhantes, dado que a espontaneidade e a experimentação são em ambas as disciplinas uma linha de condução para o meu trabalho. A pintura acaba por ocupar um espaço mais privado e acontece por períodos, por vezes nos momentos em que estou mais livre da música. Por vezes é um escape a tudo e que utilizo só para mim.

(DS) Fala-nos um pouco deste ano de 2019?

(GA) 2019 tem vindo a ser um ano ativo, com várias tours com diferentes projetos pela Europa fora. Para além dos discos já lançados este ano (Cement Shoes, Multiverse e The Selva) destaque para o acabadissimo de sair, The Attic “Summer Bummer”.

Publicado em

Live in Lisbon by Hilmar Jensson, Rafael Toral

Live in Lisbon by Hilmar Jensson, Rafael Toral

Podem ouvir aqui.

Um disco com o Rafael Toral. O que mais será preciso dizer? É simples: tal como na culinária com os ingredientes certos e uma mão experiente o resultado só pode ser saboroso.

E é exatamente esse o resultado deste duo. Saboroso!

Sensíveis ao que o outro sente, atentos ao que os move. Duas realidades distintas que se cruzam e formam um só.

Hilmar Jensson era para mim um desconhecido até ouvir este disco. E foi assim que iniciei a minha descoberta sobre o seu mundo musical. Um islandês com um som quente e modelado. Uma guitarra que nos transporta para o espaço das eletrónicas do Rafael Toral.

Uma única faixa. Quarenta e seis minutos e quarenta e seis segundos de abstração. Num dia em que as nuvens esconderam o sol, em que a lufa-lufa de quem passa nos incomoda a paz interior, nada como colocar o disco a tocar e desligarmo-nos da nossa realidade. Deixarmo-nos levar para outros sítios, outras realidades, outros cenários. E nisso o Toral é mestre. É mestre de muitas das minhas viagens tanto mentais como no papel. A facilidade de me levar até ao espaço sem precisar de fatos especiais e de seguida estar na floresta amazónica é tão grande que me faz bem aos estímulos elétricos cerebrais.

Fluo entre o sentir racional e cerebral ao sentir emocional e inexplicável.

Mais uma vez dei por mim a perguntar: “Mas por onde é que tenho andado que falho a ida a uma série de concertos em Lisboa que me iriam encher de boas energias”.

Este disco é de ter e ouvir, mas ao vivo o encanto deve ser ainda maior. Eu gosto disso. Mais que um bom disco gosto de não me desiludir quando ouço os projetos ao vivo. E uma boa gravação ao vivo tem destas coisas, traz consigo um arrependimento de ter falhado a presença.

Sou extremamente sensível a determinadas frequências altas (sons agudos) e por isso a minha, tão falada noutros textos, dificuldade em lidar com determinados instrumentos de sopro, e neste disco existe um momento que despertou esse pequeno momento de arrepio em mim. Não é um arrepio que me saiba bem mas quando acontece tenho perfeita noção que o problema sou eu e esta minha fragilidade a determinadas frequências. Não que me cause dor mas desperta em mim uma certa animosidade relativamente ao som. Decidi ir ver bem que passagem é essa e dura apenas dois segundos. Ando a treinar o ouvido para lidar melhor com frequências altas e a cada dia que passa reajo melhor a isso. E quando dou por isso já vou nos trinta e dois minutos e o disco aproxima-se demasiado rápido do fim.

Uma viagem intensa entre o racional e o espiritual, entre o espaço e a Terra, num jogo de perceções que nos aguça os sentidos e nos faz querer fazer parte desse universo tão vasto que se criou entre Portugal e a Islândia.

Image Not Found

Publicado em Deixe um comentário

Robin Fox | Double Blind

Robin Fox | Double Blind

Podem ouvir aqui.

O disco Double Blind do Robin Fox é simplesmente PERFEITO!

Criado para a coreógrafa Stephanie Lake é parte integrante um trabalho de dança contemporânea com o mesmo título.

Podes acompanhar o trabalho da coreógrafa aqui. É simplesmente fabuloso!

Foi a partir de uma das faixas deste disco – Aftermath – que escrevi o conto “A morte silenciosa de uma queda” para a rubrica “Quem escreve um solo acrescenta-lhe um conto”.

Desde que ouvi o disco pela primeira vez que a minha mente ficou efusivamente ativa. Este disco fala comigo e é um dos meus discos de eleição enquanto desenvolvo novos projetos e ideias.

Agora vai ouvi-lo enquanto lês o que escrevo. Sente o ambiente, imagina um espaço em que todos os sons coexistem harmoniosamente e respira. Não! Isto não é uma aula de ioga! É apenas uma das formas de ouvir este disco, de o sentir. Onze minutos de puro prazer.

Mas prepara-te para perderes a paz que tinhas acabado de encontrar assim que o teu cérebro começa a ficar confuso. Um loop de metrónomos que insistem em relembrar-te que Freudian March está prestes a terminar.

Experiment é uma composição genial. Cheio de pequenos detalhes que nos faz entrar numa maratona de atividade cerebral.

Para mim Aftermath é A faixa! Fala com todas as partes da minha criatividade. Palavras, imagens, sentidos estão todos em sentido de alerta.

Segundo após segundo, sinto-o com uma profundidade imensa. Não consigo explicar o porquê de esta faixa despertar em mim a vontade imensa de escrever mas há algo de realmente espetacular neste som. Possivelmente é a simplicidade presente nestes três minutos que a torna tão intensa.

Se aquilo que procuras é perceber o trabalho do Robin Fox então este disco não é para ti. Existem projetos e trabalhos que não são feitos para entender. Ouve-o, vê uma instalação ao vivo se tiveres oportunidade, e não penses muito. Deixa apenas fluir como tão bem acontece na Labyrinth Duet.

22nd Century Funk é o final perfeito para Double Blind. Um disco cheio de ambientes que fazem a nossa viagem pelo noise uma verdadeira explosão para os nosso sentidos.

E quando pensas que acabou, carrega no play outra vez. Põe o volume no máximo. Não te vais arrepender.

A tua dopamina vai subir! Disso tenho a certeza!

Image Not Found

Publicado em

Dafna Naphtali and Hans Tammen – Mechanique​(​s) Fenestrae

Dafna Naphtali and Hans Tammen – Mechanique​(​s) Fenestrae

Dafna Naphtali and Hans Tammen – Mechanique​(​s) Fenestrae

Podem ouvir aqui..

Edição | 2019

Editora | Nachtstück Records

Fenestrae leva-me rapidamente para um cenário profundamente dark. Mas é a subjetividade de interpretações que faz deste disco um dos meus discos de eleição para 2019.

Os vocalizes levam-me até um submundo intimista e avassalador.

E quando o ouves na tua sala e isso faz com que a tua filha de ano e meio deseje muito pintar é sinal que algo neste disco despertou nela a vontade de fazer o que vê a mãe fazer. O resultado é muito melhor que o meu (imagem no fim do texto). É o mais genuíno e puro que se pode ter. Este disco fala com os meus sentidos, e falou com os dela, e desde o primeiro minuto que o ouvi que quis escrever sobre ele.

A segunda faixa leva-me por breves momentos até à espiritualidade mas rapidamente me perco em corredores labirínticos numa cave claustrofóbica onde se perpetuam jogos de poder e submissão.

Os cenários são tantos e tão variados que se impõe respirar entre faixas para que se possa voltar a acalmar a mente.

Rico e apurado. Sujo e imoral. Podia continuar a descrever o que ouço assim. De duas em duas palavras.

As sensações misturam-se tão rápido como as tintas na tela e no pincel que a minha filha tem nas mãos. Não há um único momento que nos faça parar a mente. É um jogo. Um jogo em que somos os peões dos nossos sentidos.

E se durante quase uma hora é fácil entrar em modo de hipnose, o difícil é não querer voltar a ouvir o disco de uma ponta à outra.

Foi gravado em 2009, em Nova Iorque, e lançado em fevereiro deste ano e valeram os dez anos de espera. Cada ano, cada mês e cada dia!

É um turbilhão que nos põe os neurónios meio baralhados e que momento após momento nos envolve de forma cada vez mais profunda no mundo de Dafna Naphtali e Hans Tammen.

E é na faixa três que o pincel corre mais rápido nas mãos da minha filha e que a mistura de cores se torna caótica.

Mas é na agitação dos quase nove minutos da faixa seis que o clímax do disco acontece. A Dafna Naphtali torna-se com este disco um membro sonoro da família.

São nove faixas, quase uma hora, de um disco… Brutal!

E sim… Os gostos discutem-se!

Créditos

Dafna Naphtali – live sound processing & voice

Hans Tammen – endangered guitar

Cor do Som

Pinturas enquanto ouvia o disco

Image Not Found
Pure and Genuine | Painting by Pandora Leiria
Publicado em

Hearth – Work and Focus

Hearth – Work and Focus

Five women and a door that persisted not to open. It was after a tiring day of rehearsals that the four members of the Hearth group sat down with me for an informal and elucidative conversation about their work.

My big thanks to the four wonderful musicians that kindly accepted to give me this interview.

Kaja Draksler – Piano

Ada Rave – Tenor Saxophone

Mette Rasmussen – Alto Saxophone

Susana Santos Silva – Trumpet

Image Not Found

DizSonâncias (DS) – How the idea of the project born?

Kaja Draksler (KD) – We did this in October Meeting. It was a meeting with a lot of musicians from different places that happened in Bimhuis in 2016. We could make different groups among the people that came into this meeting. This was one of the groups and we decided to continue it. We kind of started it also with this idea that we will continue it in the future.

DS – Did you play together before that or it was your fist time together?

Susana Santos Silva (SSS) – I played with Kaja for many, many years.

Ada Rave (AR) – I played with Kaja. I met her when we lived in Amsterdam. We were living in the same town. And I met Mette in Amsterdam through Kaja.

DS – You have different music backgrounds. When you start playing together how you describe your vibe?

Mette Rasmussen (MR) – Some years ago I think all of us were taking new footsteps inside improvised. At the time, when we met I think we all felt really fresh and really new because we were all inspiring each other in many different ways and I think along the years this is growing and we are talking much more. That’s why we having this residence in Portalegre because we are talking much more and discussing the aesthetics about the music and where we want to go and what is the meeting point for all of us inside the group.

DS – A project only with women in jazz is quite rare. Do you feel that is a distinguish mark of the quartet?

SSS – No. It was a coincidence. We just wanted to play with each other and it’s a coincidence that we are all women.

It’s not a statement. It’s funny. We have a picture with a kid, we are called Hearth and we are four women.

AR – I think people are very used to, not only in music, see the things in a specific way. I mean, in literature, for example, you know more women through the voice of the men. Maybe words are used to do these things. But we are women so it’s normal to us to have babies, put this kind of names in things. It’s a natural thing to do.

DS – Your formation is unusual – winds and a piano – how do you create your music?

KD – Right know we are working in very concrete ideas but we are probably not use them literally. We are just working on creating a language together through very concrete exercises and then later we want to improvise and this language will be there then. We create a language together and then it stays in our head although we don’t do it consciously. That’s the idea for now but maybe we will even use some of these material on the spot. We are not deciding on it. For now, the idea is that we only improvise with these work in our subconscious but perhaps in the end we will also record something very concrete.

SSS – It’s like studying a language. We studied and then we can improve around it so that becomes our way of communicating. It’s a language we develop together. We are finding a common ground. It´s not only individualities but a band sound.

AR – We talk a lot about the material we brought. We discuss, we play, we try to make it work.

DS – The name Hearth. How it born and what’s the meaning of that?

(They laughed)

SSS – The meeting point of a family, a home. And it also plays a little bit around with the idea of heart which is also like home, the meeting point of people and the warms of a fireplace and Earth as well which is our mother land.

KD – “Her” is also in it.

SSS – I never thought of that, actually.

KD – Also the idea of home. Maybe subconsciously also comes from the fact that none of us live in their home countries. Maybe Mette feels more in home. She is kind of norweginized and anyway Scandinavian has a kind of common behaviour culture. But Mette is never home. She is always on tour. So it’s this thing of searching for home, a common place.

DS – What about surprises for tomorrow (gig in Portalegre JazzFest). Can you talk about what you have in mind?

KD – We want to surprise ourselves.

AR – We want to surprise ourselves because we are not working precisely in what we are going to play. We will improvise.

DS – Next gigs. Do you have it?

SSS – No we don´t have.

AR – We are open to it.

MR – I think the priority right now it´s the music. It´s not so much to get a lot of gigs, it´s the development of the music and not the band. I think the concert tomorrow It’s going to be an important part of this process.

We are together since 2016 and we have probably four concerts a year.

KD – Once the record is out we want to do a little tour to presented it.

SSS – We will record it here (Portalegre).

AR – We are very focused in tomorrow.

MR – We are all in a lot of different projects and, I speak for myself, I feel that some bands and some music develops when you play in concerts. It develops when you are on tour, that’s when it shapes. But I think with this band is something else. It´s not the gigs that makes the music is this process of making the music and the concerts are maybe rarer.

SSS – But if they come I think that at some point we will also do that (develop on the stage). I think that is an important part of any process.

DS – Which expectations do you have to the future of the project?

MR – I think the expectation is what Susana said. In the end we will eternalize the music, the band and the four of us and then we will be on stage developing.

SSS – Maybe in the future we will keep on moving forward and recreating.

DS – No rhythm section?

SSS – I think is more like chamber music kind of band.

MR – That’s the challenge.

Publicado em

The Selva | Canícula Rosa

The Selva | Canícula Rosa

Podem ouvir aqui.

Editora | Clean Feed

Que os The Selva têm de ser presença nos ouvidos de qualquer um de nós, não é novidade. Novidade é este ser, sem margem para dúvidas, o melhor disco do trio.

Dos primeiros aos últimos segundos não há um único momento que nos deixe desiludidos.

Não há como resistir ao violoncelo do Ricardo Jacinto que entra de fininho em Tiki Prussia num loop que nos abstrai de qualquer distração. A bateria do Nuno Morão que entra tão sorrateiramente que quando damos por ela já está embrenhada no violoncelo. E claro está que o contrabaixo do Gonçalo Almeida está lá ao fundo tão presente e tão natural que nos baralha os sentidos.

É um vício. De tal forma um vício que mesmo quando queremos deixar de consumir o ouvido não permite, por algum tempo, que larguemos Canícula Rosa em prol de outros sons.

São viciantes, subtis, perfeitos. Se há relação a três que nos desperta os sentidos, é esta! Mas com músicos assim não seria de esperar outra coisa.

Poderia alongar-me em tremendos elogios, mas neste caso ouvir e escrever ao mesmo tempo tolda-me o pensamento porque há discos que não precisam de palavras mas sim de ouvidos. Ouvidos predispostos a aceitar que há coisas que nos ultrapassam e trespassam.

Urdi Verdoso fez-me viajar. Há quem pense que é fácil construir histórias de forma automática ao som de uma música. Mas desenganem-se aqueles que pensam assim. Para que a escrita flua, para que o imaginário fuja a uma velocidade alucinante é mesmo preciso que o som que nos penetra a mente seja fluído, cheio de pormenores, recheado de pequenas surpresas e revigorante para que deixemos a mão escorregar no papel numa enxurrada de letras, frases, parágrafos, em que por vezes alcançamos páginas de pequenas histórias para onde o som nos levou.

Este é o disco que me apetece textualizar num guião para uma curta-metragem. Os ambientes mudam, as personagens também. Pode ser que se torne no meu próximo desafio.

Da criança irrequieta ao esquizofrénico do andar de cima, há espaço para todos. Todos cabem no universo deste disco. Quando dás por ti vais a meio do disco. Nem sabes muito bem como, nem porquê mas já lá estás. Como posso fazer-te sentir o disco que ainda não ouviste? Então aqui vai. Quando o teu vizinho esquizofrénico te foi acordar deste por ti a procurar um equilíbrio com laivos orientais. Curioso? Pois… É ir ouvir que vais perceber.

Manimal Cerúleo é o tema que elegi como uma das minhas faixas do ano em que por mais que a oiça me diz sempre algo de novo.

Este disco é, sem dúvida, a minha escolha para os próximos meses. É um disco seguro, daqueles que se me perder no que me apetece ouvir é só ir buscar e pôr a tocar que as dúvidas se dissipam.

Um disco seguro é igual a dizer que é um disco em cheio! Recomendo vivamente que o oiçam, que o apreciem. Que o oiçam em casa, no carro, enquanto fazem sexo, e nos momentos mais estranhos ou normais do vosso dia!

Ide ouvir!

Créditos

RICARDO JACINTO – CELLO
GONÇALO ALMEIDA – DOUBLEBASS
NUNO MORÃO – DRUMS

All music by THE SELVA Edited by CLEAN FEED (CF 518)

released March 6, 2019

Recorded by The Selva between 08-12 January 2018 at GNRATION, Braga Mixed by Nuno Fernandes at LAVA Studio Mastered by Nuno Morão at FISGAstudio/ScratchBuilt, Lisboa Photo by Adriano Ferreira Borges / gnration Artwork by Rita Thomaz Design by Travassos

Produced by The Selva and OSSO Collective Executive production by Pedro Costa for Trem Azul, 2019

Special thanks to Luis Fernandes, João Coutada, Adriano Ferreira Borges and Rita Thomaz.

www.osso.pt

Image Not Found

Publicado em

Ni | pantophobie

Ni | pantophobie

Podem ouvir aqui.

Nem só de rock e de metal vive o Homem mas a verdade é que o rock e o metal fazem muita falta!

Ni é simplesmente desconcertante!

A linha gráfica é espetacular e da autoria de Davor Vrankić. É mesmo de irem dar uma espreitadela no site do artista em questão.

Pantophobie são nove fobias de duração média, o disco ao todo não excede uma hora.

Fobias que nos consomem os ouvidos malha após malha.

Alektorophobie tem os vocalizes certos nos momentos certos. Até dá gosto ter fobia de galinhas!

Já lá vão os tempos em que na minha adolescência o black metal e o heavy metal me enchiam a cabeça a toda a hora. Agora com o distanciamento certo, o ouvido há muito que se abriu a outras sonoridades mas há sempre aquela banda que junta o melhor de todos os mundos musicais por onde passei e por onde gosto de andar. Ni são uma dessas bandas!

E é na malha a seguir Lachanophobie que não contenho um sorriso. Qualquer um de nós em putos passou por esta, talvez não em forma de fobia mas em forma de aversão.

E se há algo que me agarra profundamente a este som são as brutais malhas de baixo e a sua presença constante e bem definida pelas mãos do baixista Benoit Lecomte. E, claro, o momento que nos leva para um groove quase funk no meio da fuga aos vegetais.

Leucosélophobie é terrível, e para quem escreve é um mal relativamente comum mas como colocá-lo em versão áudio é um desafio bem superado! As guitarras falam em alto e bom som. E esta ficou em repeat durante algum tempo.

Catagelophobie inclui-nos naturalmente no seu universo de vocalizes que por instantes me levam para os tempos em que os ZEN estavam na berra em Portugal. Não há como resistir em procurar no dicionário de fobias, aka google, o significado desta.

Em Kakorraphiophobie não há como fugir ao ambiente mais dark que se avizinha a meio da malha. E é aqui que dar uma vista de olhos pelo site do artista gráfico do disco é imprescindível. A banda sonora certa para o site certo!

Medo de falar e medo de andar (Lalophobie e Stasophobie) são duas fobias que não acompanham os Ni. Ni é para ouvir em alto e bom som, e que têm pernas para andar lá isso têm! O fim do disco anuncia-se de tal forma gritante que é difícil não carregar no play outra vez.

Um disco bem elaborado do princípio ao fim, com as dinâmicas certas no sítio certo e um universo de sons e grafismos para conhecer!

O disco, versão digital, só podia custar 6.66€. É de comprar e orar por mais.

Créditos

Anthony Béard | Guitar
Nicolas Bernollin | Drums
Benoit Lecomte | Bass
François Mignot | Guitar
Hervé Faivre | Recording at Improve Tone studio

R3my Boy | Mix
Romain Raffini I Mastering at 2R audio
Clément Dupuis | Executive production
Adrien Arnera | Administration
Davor Vrankić | Artwork

All music and arrangements by Ni
© & ℗ 2019 Dur et Doux

www.duretdoux.com
Booking : booking@duretdoux.com

Image Not Found

Publicado em

Rafael Toral | Live in Lisbon

Rafael Toral | Live in Lisbon

Podem ouvir aqui.

Editora | Noise Precision Library

O Rafael Toral dispensa apresentações, mas o Rafael Toral com Tatsuya Nakatani e John Edwards é um disco que merece não uma apresentação mas um destaque na biblioteca sonora de qualquer um de nós.

O disco “Live in Lisbon” foi gravado em 2009. É o resultado de três concertos juntos (um em Lisboa e dois em Cascais). E que resultado! Envolvente, penetrante e que me leva para outros sítios apesar de sentada comodamente no meu sofá.

Longo e cheio de requintes sonoros. Sem vontade de apressar a audição. É preciso tempo.

Para quem se queixa tanto como eu da falta de tempo este é um disco que nos faz viver o tempo de outra forma. Sem correrias, sem ouvir por ouvir, sem ter pressa para ir a algum lado. É para mim um disco sem tempo definido.

Mas se precisam de saber o tempo que devem ter para ouvi-lo, aqui vai. São duas horas. Mas se querem mesmo, mesmo ouvi-lo bem são duas horas de cada vez que o ouvem, vezes um número considerável de audições. Aconselho-vos a ouvirem-no muitas vezes. Porquê? Porque merece! Porque é tão bom que merece que paremos o frenesim e nos deixemos levar entre notas e ambientes. Entre tensões e desequilíbrios.

Tatsuya Nakatani é surpreendente e intenso. É breve e longo. É som e silêncio. E claro que o contrabaixo de John Edwards é perfeito neste trio.

As eletrónicas do Rafael Toral enchem-nos o espaço e transportam-nos, por vezes, para planetas distintos numa onda de foro alienígena.

É difícil descrever por onde anda a cabeça durante a primeira faixa. Do Japão a Marte, dos anéis de Saturno à estação de comboios de Sete Rios em Lisboa. Da paz dos jacarandás em flor ao corropio e lufa lufa quotidiana na vida de qualquer citadino. É por essas realidades e imaginários que me desloco ora em passo acelerado ora em passo lento e demorado.

Quase vinte e dois minutos depois da viagem ter começado há uma tosse que me traz para a realidade do concerto ao vivo. Voltei de Saturno e aterrei na Culturgest. E que bem que aterrei mas rapidamente voltei a uma manada a percorrer apressadamente uma savana.

Em cinquenta e um minutos e cinquenta e seis segundos fui a tanto sítio, senti tanta coisa e vivi momentos de extremo prazer.

Eu na minha sala, de fones e de sorriso no rosto.

O diálogo entre os três é intenso e assertivo, ora espontâneo, ora concertado. Devagar vamos sentido a dinâmica a crescer e o auge avizinha-se forte e marcante.

Live in Cascais I é um novo diálogo. Mais tenso e mais escuro. Que nos faz ficar zonzos e a suster a respiração em alguns instantes.

Aos vinte e sete minutos instala-se uma pressa, o batimento cardíaco acelera e ficamos agitados, ansiosos por chegar a algum lugar que nos traga um breve momento para respirar.

Imaginem uma viagem de comboio entre Lisboa e Cascais I. Acabaram de sair de Lisboa onde o tempo não era importante, onde reinava uma paz – que podemos dizer campestre e deveras imaginária na cidade – e que na viagem entre os dois pontos se instala a tensão e a ansiedade de chegar. Em que o tempo corre e o diálogo se vai intensificando.

É isso que sinto entre a primeira e a segunda faixa do disco. Tudo se intensifica. Tudo se torna mais interessante.

E quando dei por mim os aplausos anunciam que estamos prestes a entrar em Cascais II. A calma regressa, a tensão é aliviada e dá lugar a um momento em que três músicos excecionais respiram entre sons e frases num entendimento mútuo e fluido.

Cascais II é fechar em beleza um disco excelente. É sentir que queremos voltar a Lisboa e começar a viagem de novo.

Créditos

Tatsuya Nakatani – Drums and Percussion
John Edwards – Double Bass
Rafael Toral – Electronic Instruments

Thanks to: Pedro Costa

Publicado em

Accidentale Trio | Interazioni

Accidentale Trio | Interazioni

Podem ouvir aqui.

Edição | 2018

Quando as eletrónicas se cruzam acidentalmente com uma guitarra e bateria isso é “Interazione”.

O disco “Interazione” é dos mais longos que alguma vez ouvi e resulta da gravação do primeiro encontro entre Santi Costanzo (Prepared and unprepared guitar), Alessandro Grasso (Desktop electronics) e Riccardo Napoli (Prepared and amplified drums). Sem qualquer troca prévia de palavras sobre o que iriam desenvolver os três disponibilizaram-se a dialogar abertamente e a partilhar experiências e vivências.

O registo, que inicialmente e numa primeira audição nos pode parecer demasiado similar ao longo das dez faixas, é na verdade repleto de pequenas nuances e encontros. E se há coisa que o noise me faz é relaxar e criar momentos de escrita de peculiar foco e intensidade.

Não é fácil escrever sobre “Interazione” mas é fácil para mim afirmar que o panorama musical italiano me tem vindo a surpreender. Os Roots Magic são dos principais responsáveis pela minha recente incursão na cena italiana. São ondas distintas e em nada comparáveis mas a verdade é que há muito por descobrir por aquele país.

Demorei quase três dias a ouvir o disco porque me faltou o tempo para o ouvir com atenção de seguida. Senti falta de ambientes mais distintos entre faixas mas a verdade é que o diálogo entre os três resultou numa conversa com pés e cabeça.

Escrever sobre os Accidentale Trio é desafiante na medida em que por mais que vos queira passar sensações é difícil colocá-las em palavras. Mas uma das hipóteses que coloco é passar “Interazione” para um exercício de cores. Uma paleta de cores quentes e frias.

Interazione 5 é um vermelho vivo com traços pretos curtos e intensos. Percebem onde quero chegar? É subjetivo e desperta-nos sensações. É um terramoto de bolas pretas saltitantes com uns dourados à mistura. É tudo isto vezes dezoito minutos e trinta e quatro segundos.

Interazione 6 passa pelos U2. Não sei se gosto, se odeio. É um mixed feelings! É um amarelo cheio de pontos azuis.

É fácil colocar este disco em tela, difícil é colocá-lo em palavras.

Fevereiro de 2019 marca o início de um trio promissor, que nos enche os ouvidos com um noise bem conseguido e que nos faz viajar entre telas e tintas, cenas e cenários.

Créditos

Santi Costanzo: Prepared and unprepared guitar
Alessandro Grasso: Desktop electronics
Riccardo Napoli: Prepared and amplified drums

Recorded: Riccardo Napoli & Alessandro Grasso
Live Mixing: Alessandro Grasso
Mastering: Santi Costanzo
Artwork: EXT-1 video still

Cor do Som

Pinturas que fiz enquanto ouvia o disco

Interazioni 7  Painting by Margarida Azevedo
Interazioni 7 | Painting by Margarida Azevedo
Interazioni 9  Painting by Margarida Azevedo
Interazioni 9 | Painting by Margarida Azevedo
Publicado em

Anguish | Anguish

Anguish | Anguish

Podem ouvir aqui.
Edição | 2018
Editora | RareNoiseRecords

Anguish é simplesmente BRU-TAL!

A capa é maravilhosa e o conteúdo viciante.

A escultura de Darla Jackson, intitulada “They creep in… (rust)” é linda e digna de estar na minha sala e deu a esta capa a imagem perfeita para o disco.

Passemos para o conteúdo.

Sim, o Mats Gustafsson é aquela máquina do saxofone e em parceria com o Andreas Werliin têm tudo o que se quer. Comecei a tomar mais atenção aos dois há uns anos atrás no Festival de Jazz de Portalegre, mais especificamente no concerto de Fire! em 2014. Agarrado ao fender rhodes sem tocar numa única tecla e a curtir à grande só com os pedais foi a imagem que retive do Mats.

Esse concerto foi, sem dúvida, dos melhores concertos que vi. É um animal de palco e um músico brutal.

Voltando ao disco. Vibrations é o início de um álbum bem elaborado e cheio de pequenos requintes que anuncia um hip hop experimental de alta qualidade.

Quando ouvi Cyclical/Physical impôs-se a questão: há quanto tempo não ouvia uma música com letra? Tenho andado tão embrenhada na cena instrumental que ouvir alguém a cantar uma letra me despertou os sentidos.

Um RAP com o power q.b. para um instrumental perfeito em backdrop. E só podia ser a bateria do Andreas Werliin a puxar-nos para aquele groove que não nos deixa estar de corpo quieto.

Anguish que dá nome ao disco é, para mim, o momento mais intimista do disco. Levou-me para memórias de quando na adolescência ouvia Ithaka (The rise and fall of a fortune) sentada no passeio nas traseiras de casa.

Sei que são universos diferentes com décadas de diferença mas a sensação foi mesmo essa. Eu. Adolescente. A ouvir a música com todos os meus sentidos!

Gut Feeling é “A” malha deste disco! Que groovezorro! A voz encaixa na perfeição em cada tempo, em cada respiração do Mats, em tudo.

Will Brooks é uma novidade para mim, mas daquelas novidades boas. Ele e o saxofone do Mats dialogam na perfeição e é o “Fuck your frail feelings!” que nos faz entender isso tão bem.

E há loops que vêm por bem. Exemplo disso é Brushes for Leah. São dois minutos e trinta e um segundos para ganharmos fôlego para o que aí vem.

Healer´s Lament faz-me viajar outra vez. Agora até ao calor da minha atual sala, onde em silêncio e com um bom copo de vinho oiço e absorvo o inconfundível spoken word  de Gil Scott-Heron. E se uma música me transporta para esse momento então é só e unicamente uma alta malha!

São quase oito minutos de perfeita sintonia entre todos os músicos: Will Brooks, Mats Gustafsson, Hans Joachim Irmler, Mike Mare e Andreas Werliin.

Dew é completamente Mats e Andreas! É o momento do disco mais jazzístico e que mostra como esta fusão é perfeita.

A Maze of Decay é o único tema que não me agarrou. Sim, passei à frente. É tudo uma questão de gosto porque a qualidade não é sequer possível de ser posta em causa.

Wümme é o momento em que, ao fim de sete minutos e sete segundos (duração perfeita de um tema para quem seja aficionado da numerologia), carregamos no play para ouvir tudo outra vez!

Um disco viciante que nos obriga a manter os ouvidos atentos e os olhos abertos. Mais um daqueles que me fazem gostar tanto das edições da RareNoiseRecords.

E se alguém te disser: “Ah e tal não gosto de hip hop”,  podes sempre calar essa pessoa. Como?

Põe-no a ouvir isto!

Créditos

Will Brooks (dälek) – vocals, SAMPLR, Eventide/Elektron effect pedals, 1 note on MOOG rogue, 3 notes on grand piano
Mats Gustafsson – tenor saxophone, live – electronics, 3 notes on grand piano
Hans Joachim Irmler – synthesizers, vocals
Mike Mare – guitar, electronics, synthesizer
Andreas Werliin – drums, percussion

Recorded and mixed by Johannes Buff
Assistant Engineer: Jan Wagner

Recorded at Faust Studios
Scheer, Germany July 14 – 19, 2018

Mixed at END NOTE
Bayonne, Basque Country July 23 – 27, 2018
Spiritual counsel – LENNI

Mastered by Michael Fossenkemper
Mastered at Turtle Tone Studios, NYC, NY
All songs composed by Will Brooks, Mats Gustafsson, Hans Joachim Irmler, Mike Mare, and Andreas Werliin
All song published by Mayan Ruins Music (SESAC), Mike Mare Music (BMI),
All lyrics by Will Brooks, Mayan Ruins Music (SESAC) except “Healer’s Lament” by Kamau Daáood.

Executive Producer for RareNoiseRecords: Giacomo Bruzzo
Design & Layout by Paul Romano
Sculpture by Darla Jackson

© + ℗ RareNoiseRecords 2018